segunda-feira, 30 de abril de 2018

[Fanfic] As crônicas do Lobo e da Raposa: Calda Longa (Análise 1º Capítulo)

Autor: Juliana Silveri
Capítulos: 32
Status: Completa
Hospedagem: Wattpad
Gênero: Fantasia, ação, romance

Sinopse: Alis Kashing pertence a uma renomada família de piratas e é o braço direito do tio. 
Tudo corria bem até Alis sofrer uma tentativa de homicídio e ser salva por Edwin Fauzi, um rapaz maltrapilho e volátil que a retira do barril onde tinha sido enclausurada e jogada ao mar.                           
A dupla então entra num acordo para irem até a capital, onde ela procurará por pistas de seu mistério e ele aproveitará para refazer a vida. O plano começa a dar errado com o aparecimento de um antigo desafeto, que tenta matá-los. O que não esperavam disso era que herdassem uma espada amaldiçoada e uma gema diabólica que os torna alvos da Guarda Real e do grupo rebelde.        
Enquanto tentam se livrar dos artefatos e da política, esbarram com raposas e mercenários que, como eles, tentam se livrar de seus problemas para gozar de suas segundas chances.

Saudações, pessoas!

Venho hoje com mais uma análise de capítulo para vocês, essa foi a última análise no canal, ou seja, coloquei todas as fanfics resenhadas e ainda ativas desde o início do canal no blog, só faltava essa. Ao que parece é uma história "famosa" entre as histórias de fantasia do wattpad, inclusive, pelo que me lembro essa é a segunda história do wattpad resenhada (sem contar as minhas) e fiquei muito feliz com isso porque acho o wattpad mais confortável para ler graças ao aplicativo para celular.

Assistindo ao vídeo do Hadou eu não pude tirar muitas conclusões prévias a respeito do enredo, fica claro que é uma história de fantasia, com elementos de ação e romance. Ele classificou a história como a mais criativa que já leu e teceu muitos elogios ao desenvolvimento e escrita da autora, o que foi um bom incentivo para despertar meu interesse no livro.Cada capítulo que eu leio para resenhar aqui eu tenho em mente o que esperar quando assisto o vídeo de resenha no canal, nunca vou ler sem alguma expectativa seja ela boa ou ruim. 

Segundo ele, a história se passa na época dos piratas e trata-se basicamente da vida no mar ainda que se passe um bom tempo na terra. Mostra como os piratas viviam e se concentra em dois personagens, o principal, que seria o "lobo", um homem triste que tem boas filosofias de vida e segue seu caminho até tudo mudar quando ele conhece a "raposa". Pelo nome da história eu pensei logo no conto dos irmãos Grimm, não sei se ele serviu de alguma base para ela criar a história, mas pelo pouco que ele falou no vídeo acho muito pouco provável. Inclusive, eu li esse conto antes de ler o primeiro capítulo para o caso de encontrar alguma referência.

Em primeiro lugar, falemos do material prévio da história. A capa está muito boa, embora o lobo esteja faltante e só foque na raposa. Pesquisando na internet vi que a capa que está sendo usada é a segunda versão, particularmente gostei mais da anterior que é essa aí ao lado, achei que além de mais bonita (e essa fonte de TMI ficou divina) cumpre um pouco melhor às alusões às personagens. A sinopse também foi bem construída, não posso dizer se os furos que ela apresenta são ou não propositais, mas ela dá um panorama do que pode-se esperar do livro embora eu trocasse alguns termos, o importante é que é uma sinopse eficiente, direciona o leitor ao enredo sem mostrar mais do que ele precisa saber.

Outro ponto que o Hadou comentou e que quero reiterar aqui é a formatação da história dela que é realmente digna de nota, com ilustrações e composições que dão a impressão de que você está lendo um livro mesmo embora no celular a formatação perca um pouco a magia dependendo do tamanho da tela do celular. Mas se você ler por um tablet ou no PC fica muito bonito. 

Em um primeiro momento, quando o Hadou disse que ela usava uma escrita um pouco  rebuscada (ele usou exagerada, mas não acho que tenha sido a intenção), posso dizer com convicção que não concordo, achei a escrita dela bem simples até, contudo ela tem um bom domínio da lírica transformando a narração dela em algo leve mesmo nas situações mais pesadas como acontece no prólogo que é o que está sendo analisado aqui (achei grande o suficiente para isso), fui até começar a ler o capítulo um, mas não achei mesmo nada que indicasse que ela usa uma linguagem rebuscada, para ser um livro de fantasia está até bem de acordo. Creio que qualquer leitor (e por leitor eu digo pessoas que leem com frequência) vai levar o livro dela numa boa.

Um ponto que eu digo aqui é a falta de situação temporal. Para ser uma história de fantasia, ambientada na era dos piratas em um mundo fictício, acredito que deveria ter sido alocada num tempo específico, não dá certeza se a história acontece realmente na época medieval das embarcações, isso fica subtendido pelo barril onde Alis é encontrada, pela taverna onde Edwin pede ajuda e pelo figurino que ele descreve, mas não dá para se situar num tempo específico pela ausência de datação. Não há muito o que dizer do livro não, a história é bem escrita, tem algumas falhas como qualquer história no planeta e por falhas no caso dela eu digo que no contexto alguns termos seriam melhor se colocados de outra forma, mas no geral ela é bem escrita, bem estruturada e tem uma narração cadenciada. O gancho do prólogo para o primeiro capítulo é uma jogada de mestre muito pouco usada pelos autores inciantes, tem um enredo interessante e é mostrada de uma forma que realmente desperta interesse no leitor.

O livro é narrado em terceira pessoa e conta a história de Edwin, um garoto que está fugindo de algo ou alguém e cansado chega a um pequeno vilarejo costeiro, faminto, cansado e sem qualquer expectativa, ele sente-se cansado da vida, depois de ser rejeitado ao pedir ajuda na taverna, decide se suicidar, mas é salvo por um barril que flutuava no mar e de onde alguém gritava por socorro. Desistindo de se atirar do penhasco ele corre até o objeto e puxa-o para a praia, tentando arranjar um jeito de abri-lo, dentro, para sua surpresa, encontra uma garota quase desacordada. A inusitada situação dela, cujo nome ele vem a saber ser Alis, é explicada como uma tentativa de homicídio. Com a chegada de uma tempestade, ambos se abrigam juntos em uma cabana abandonada e, na pequena e breve convivência, descobrem um mínimo mais sobre o outro e decidir sobre suas prioridades dali em diante.

Por ser narrado em terceira pessoa, a autora deveria apostar mais nas descrições uma vez que o cenário se torna um foco em narrações desse tipo, ainda assim, como ela de algum modo direciona o ponto de vista para um protagonista (e pelo pouco que vi no primeiro capítulo vai alternar entre eles), isso é até compreensível, mas não totalmente aceitável. Porém, é apenas o prólogo e as circunstâncias do momento até dão espaço para essas faltas. Num cômputo geral, a única ressalva que eu faço nesse prólogo é a divisão dos parágrafos mesmo. De resto, é um texto muito fluido, bem escrito, personagens apresentados de maneira coerente e uma narração que combina com o gênero que se propõe. Indicando de cara que a autora é uma traça. E esse é o segredo de um bom autor, gente: ler. A história dela é um excelente exemplo de como se deve construir um livro, indico.

E essa foi a análise de hoje. Vejo vocês na próxima quando o Hadou ler mais algo. Fiquem aí embaixo com o vídeo da resenha, mas não deixem de entrar no canal, se inscrever e curtir o vídeo, por favor! Lembrando também que, nessas resenhas, os links de todas as histórias ficam no link lá em cima nas informações do livro, só clicar no lugar onde ela está hospedada e vai ser direcionado para ela.

Grande abraço e até a próxima!

 

quinta-feira, 26 de abril de 2018

[Livro] Sequência de A Seleção


Já tem um bom tempo desde que li A Seleção, vi por acaso com a minha irmã numa de nossas idas às Americanas e, sou sincera, comprei pela capa. Contudo, acabei me vendo presa ao livro assim que comecei a ler e não consegui largá-lo até a última página. Porém, meu ânimo foi diminuindo com o passar da sequência da trilogia, mesmo que em nenhum momento eu tenha shippado errado, America Singer foi se tornando cada livro mais problemática e me dava nos nervos ter de acompanhá-la. O último livro, A Escolha, me deixou decepcionada para dizer o mínimo, como se fosse muito acontecimento e não desse pra colocar tudo no mesmo livro, aí ela teve que sair "cortando" as cenas pra resumir. Por isso, quando foi anunciado mais dois livros da sequência, seguindo agora a filha do casal principal, não me empolguei muito e os comentários de que ela era pior que a mãe dela não ajudaram em nada. Esse ano, decidi pôr os dois livros na meta de leitura e eis aqui minha opinião a respeito da sequência da série.

Título Original: The Heir
Série: Seleção #4
Gênero: Distopia, romance, YA
Ano: 2015
Páginas: 287 (econômica) 390 (normal)

Sinopse: Vinte anos atrás, America Singer participou da Seleção e conquistou o coração do príncipe Maxon. Agora chegou a vez da princesa Eadlyn, filha do casal. Prestes a conhecer os trinta e cinco pretendentes que irão disputar sua mão numa nova Seleção, ela não tem esperanças de viver um conto de fadas como o de seus pais… Mas assim que a competição começa, ela percebe que encontrar seu príncipe encantado talvez não seja tão impossível quanto parecia.

 Bem, minha irmã comprou os dois últimos livros da série na Avon porque só faltava esses dois, mas não tinha muitas expectativas com ele não, principalmente porque eu tinha ouvido muita coisa sobre como a filha de América era altamente insuportável, ainda assim, não sou dessas que deixa os livros mofando na estante sem ler (bom, só os que são realmente ruins ao ponto de não valerem meu tempo, como o James Patterson que eu não leio nunca mais).

Enfim, como só faltavam eles dois, pus na meta desse ano, aí comecei a ler para passar a raiva toda de uma vez, mas não simpatizei muito com a Eadlyn não e, vou dizer, a criatividade da Kiera Cass se concentra principalmente em criar nomes estrambólicos para as personagens, quer dizer, quem no mundo se chamaria Ahren, mas okay. Uma coisa interessante, em favor desse livro, é que a gente vê como seria se a Seleção fosse invertida, aqui são 35 caras pela mão de uma princesa e é interessante observar essa perspectiva, principalmente porque o comportamento deles é diferente. Em outra ótica também nós podemos observar o dia a dia da realeza, uma vez que nos livros de America a gente tinha a perspectiva de como funcionava o lado "plebeu" da seleção e não sabia como era para Maxon o que seria sim um ponto de vista muito bacana.

Muito bem, a história começa com Eadlyn reclamando que só estava "condenada" à coroa porque nasceu sete minutos antes de seu irmão gêmeo Ahren, que na história monárquica que conhecemos seria o herdeiro da coroa por ser homem, contudo, América e Maxon mudaram as leis para que ela, como primogênita, ficasse com o trono. Contudo, apesar de todas as regalias, Eadlyn sente e muito o peso da responsabilidade para a qual foi preparada desde criança para exercer, o problema mora, inclusive, nela mesmo. O que torna esse livro sofrível é a personagem, gente. Não há outra forma de expressar Eadlyn além de chata. Ela é incrivelmente chata! Acredito que a Cass quis criar uma personagem feminina empoderada, toda voltada para a seguradora de espadas e rainha da porra toda, mas ela só conseguiu fazer uma personagem mimada, fútil, intragável que não desperta qualquer sentimento em nós leitores que não seja raiva.

Então, os 35 caras são sorteados de maneira bem democrática ao contrário do que aconteceu com Maxon cujo pai manipulou essa etapa. E por falar em Maxon uma coisa bacana nesse livro é que a gente tende a imaginar nossos personagens sempre jovens, quando A Escolha acabou nós tínhamos um rei jovem, cheio de vida com toda uma vida pela frente, pra mim pelo menos a sensação de ler um livro em que a filha dele descreve cabelos brancos, pés de galinhas e ruga vincada na testa foi muito estranho e, ao mesmo tempo, muito legal. A gente tem um vislumbre, ainda que muito tênue, da vida que os dois levaram e dos quatro filhos que tiveram e essa parte é bem interessante, não somente isso, mas como foi levado adiante o plano de Maxon de excluir as castas e como isso não funcionou tão bem quanto esperado uma vez que o preconceito ainda permaneceu.

Acho que o que me fez desgostar um pouco mais dessa seleção de Eadlyn foi o fato de ela ser incrivelmente irritante. Maxon, como ela, não queria a Seleção, mas ele não era um cretino mimado e soube levar a busca pela garota certa a sério, mergulhou de cabeça, deu uma chance. Só que a filha dele não faz isso, ela é estúpida, grossa, frívola, manipuladora e com mania de grandeza "eu vou ser a rainha, ninguém é mais poderoso que eu" e blá blá blá. Gente, é massante. Até mesmo os próprios candidatos  não me cativaram muito com exceção de Henri, que eu amei de paixão, gente ele é muito fofo. O intérprete dele, Erick, também é um amor e eu torci muito por ele mesmo que ele não faça parte da seleção, contudo, há grandes chances de que ela acabe com um outro candidato que eu não queria muito, mas esperemos para ver, já vou começar a ler logo o outro livro (normalmente eu alterno um físico e um ebook, mas vou abrir uma exceção dessa vez).

Ao contrário de Maxon, uma vez que Eadlyn não quer a seleção ela acaba metendo os pés pelas mãos diversas vezes por querer dar uma de espertinha e manipular a mídia e as pessoas. Por causa disso arruma ainda mais problemas para Maxon que já está se desdobrando para controlar as rebeliões que estão se voltando contra a monarquia. Okay, eu até entendo a parte de não acreditar no amor e não querer se casar, é até compreensível principalmente considerando a idade dela, mas se fechar daquele jeito e magoar outras pessoas é errado uma vez que ela concordou com a Seleção para dar tempo ao pai. Eu realmente não gostei dela. 

Título Original: The Crown
Série: Seleção #5
Gênero: Distopia, romance, YA
Ano: 2016
Páginas: 225 (econômica) 310 (normal)

Sinopse: Em A herdeira, o universo de A Seleção entrou numa nova era. Vinte anos se passaram desde que America Singer e o príncipe Maxon se apaixonaram, e a filha do casal é a primeira princesa a passar por sua própria Seleção. Eadlyn não acreditava que encontraria um companheiro entre os trinta e cinco pretendentes do concurso, muito menos o amor verdadeiro. Mas às vezes o coração prega peças… E agora Eadlyn precisa fazer uma escolha muito mais difícil — e importante — do que esperava.

Eadlyn não é de longe a rainha que o povo de Iléa quer no trono e depois da carta de Ahren agora ela sabe disso. Com a saúde de America correndo sérios riscos, ela se vê como regente em meio a um turbilhão de acontecimentos, sendo oprimida pela partida do irmão, a responsabilidade com a Seleção e um país que a rejeita como rainha.

É quando entra em cena Marid Illéa, filho de um ex-amigo de Maxon que se oferece para ajudá-la com a opinião pública, o que Eadlyn não faz ideia são as intenções sombrias por trás da generosa oferta do aspirante a político. Enquanto tenta resolver a questão da aceitação, várias descobertas sobre os meninos da Seleção vêm à tona o que a colocam não apenas em uma boa saia justa, mas dificultam ainda mais sua escolha. Para alguém que estava decidida a ignorar completamente a voz do seu coração, a princesa se vê coroada rainha com uma bomba nas mãos: está apaixonada por uma pessoa que não faz parte da Seleção o que pode vir a parecer uma traição ao seu país e trazer ainda mais problemas para si mesma.

O alívio cômico nesse livro é muito melhor que o anterior e, apesar de Eadlyn continuar meio chata, ela está mais suportável que antes. Sendo bem sincera eu achei que os acontecimentos da história foram rápidos demais, como se ela tivesse querido colocar tudo de uma vez porque não teria outro livro depois. A relação de Erik com Eadlyn principalmente, tudo bem que foi sutil e talvez tenha sido até intencional por parte dela pra fazer a gente acreditar que ela ficaria mesmo com Kyle, mas foi tão mal desenvolvida, os momentos dos dois tinham aquela centelha, mas não dava pra sentir com firmeza nas cenas porque a Eadlyn não demonstrava isso no primeiro livro.

Outra coisa foi o tal Marid, de onde ele surgiu? Faz um tempão que eu li A Seleção, então não lembro direito quem são os Iléa ou se eles aparecem nos primeiros livros, mas sei lá, ele pareceu meio perdido no enredo, como se fosse a intenção fazer um vilão de ultima hora, mas como ele não apareceu no outro livro não pode nem ser considerado um personagem de transição. Uma coisa bacana nesse livro foi saber mais sobre Maxon e a sua relação com o pai, gostei muito dessa parte. Algumas perguntas ficaram implícitas no "depois" do final e também não gostei muito disso, creio que daria sim para ter desenvolvido a história um pouco mais, o livro ficou tão curtinho deu aquela ausência de emoção, como se tivesse faltando algo. Ainda assim, gostei mais desse que do anterior. Henri muito fofo foi um dos personagens que mais amei.

O que eu posso tirar de conselho dessa sequência: cuidado ao criar personagens! As vezes, na sua cabeça a personagem é ativa, altiva e "fodona", mas a impressão que dá aos leitores surte diversos sentimentos diferentes que divergem da sua concepção, acho que foi o que houve com a Eadlyn, na tentativa de criar uma personagem cheia de si e que luta pelos seus ideais, a Kiera Cass acabou criando um monstrinho mimado e chato pra cacete (com o perdão da palavra). A pior parte é que não dá tempo ela "evoluir" como deveria, entende? Mesmo a America eu acredito que evoluiu de maneira bem mediana durante os três primeiros livros, a Eadlyn não conseguiu nem respirar, a gente só percebia a suposta evolução dela pela boca das próprias personagens do livro, não é algo que a gente possa atestar, sabe? É muito abrupto. Em outras palavras, ela não "cresce com a gente". Pelo menos foi essa a impressão que tive.

segunda-feira, 23 de abril de 2018

[Dica de Escrita] Os 7 Passos da Construção do Romance

Como o Leitor Beta é um blog voltado para o público de fanfics e, consequentemente, para pessoas que escrevem, achei muito pertinente trazer esse post pra cá (digo isso porque eu tenho um blog e esse post foi originalmente postado lá.)

Essa semana passada eu participei de uma palestra online bem legal sobre escrita criativa com o autor e professor Tiago Novaes, não é um nome que eu conheça muito no meio literário embora ele tenha ganhado vários prêmios pelas suas histórias. A palestra foi bem legal e ele listava sete passos para a construção do romance, como era online e em vídeo eu fiz umas anotações meio rabiscadas e incrementei com o conhecimento que adquiri ao longo do tempo nas leituras sobre o assunto e decidi dividir isso com vocês. 

Os 7 Passos da Construção do Romance

Escrever um livro, como um todo, é um processo completamente exigente e o romance, talvez, seja o caminho mais exigente da jornada do escritor. É uma "maratona" que exige não apenas dedicação, mas um plano metódico e uma preparação espiritual que sejam constantes e impeçam que o escritor perca a si mesmo e a sua ideia no processo.

Vale ressaltar que romance não é falado aqui como a ideia de uma história de amor entre um casal, mas como uma narrativa longa. Segundo o dicionário:

1. Narração histórica em versos simples.
2. Língua ou conjunto de línguas derivadas do latim.
3. Gênero narrativo em prosa, geralmente longo, de aventuras imaginárias ou reproduzidas da realidade.
4. Relação amorosa.
5. Fantasia.
Fonte: Priberam.

Dito isso, continuemos. Pensemos na escrita do romance como uma viagem que se fará. Antes de viajar, precisamos preparar uma sorte de coisas e fazer um planejamento cuidadoso para que cheguemos onde precisamos e, sobretudo, aproveitemos cada minuto. Do mesmo modo a escrita de um romance — e acredito que de qualquer gênero — pede essa preparação. Por isso, apresentar-se-á 7 passos que podem guiar escritores nessa jornada. Vale lembrar que esses passos não são uma receita pronta e acabada, mas um caminho para que cada autor encontre seu próprio método.

1. FESTINA LENTE

É provável que poucos tenham ouvido este termo antes. Esta é uma expressão em latim que significa apressa-te devagar, uma metáfora muito válida na construção do romance que é feito de pequenos passos que pedem proatividade.

Em média, um romance tem a partir de 35 mil palavras, imagine que a sua disponibilidade diária te permite escrever 200 palavras por dia, com dedicação você finalizará o romance em mais ou menos cinco meses. Tenha em mente que, nem sempre, agilidade e qualidade caminham lado a lado, o processo de escrita é muito subordinado à dedicação de cada pessoa. Há quem escreva 2.000 palavras por dia, mas não quer dizer que seu trabalho é melhor do que aquele que escreve 150. Encontre seu próprio tempo e, com o exercício constante, vai encontrar seu ritmo.

Estabeleça uma meta diária e force-se a cumpri-la diariamente!

2. ESTRUTURE SUA OBRA

A estrutura do romance é um processo criativo importante que vai agir como um auxiliar do autor para o desenvolvimento da obra, não como uma "coleira", mas um caminho, de modo que a história não se perca, para que se saiba onde se quer chegar e que percurso fazer para alcançar esse resultado. Estudar sobre a estrutura do romance é como buscar a compreensão da disposição dos tijolos na construção de um prédio.

2.1. CAPÍTULOS

Dentro da estrutura do romance é relevante discorrer sobre o papel dos capítulos dentro de uma obra, eles não estão ali de maneira aleatória, mas são parte de um planejamento que da ao autor uma visualização do percurso do seu enredo. Na hora de estruturar uma obra você precisa ter em mente que se um capítulo, diálogo ou cena não representam um avanço para a narrativa, para contribuir que ela "caminhe", que contribua ao desenvolvimento do personagem ou ao grande questionamento da história, então talvez seja o caso de eliminá-lo.

Veja, o propósito de um romance não é "encher linguiça" para ocupar páginas, você está contando uma história, seu leitor precisa ter a sensação de que, a cada capítulo, ele está caminhando com o seu personagem, está indo a algum lugar, dessa forma, cada capítulo é como uma vértebra que liga a espinha dorsal do caminho do seu enredo. Basicamente, dentro de um romance, o capítulo vem com 3 finalidades:

1. Propósito

Cada capítulo tem que ter um motivo para estar ali, pergunte-se por que esse capítulo existe? ou ele revela algo novo da narrativa ou da personagem, se esse capítulo não tem nada relevante sobre nenhum dos dois então avalie se ele realmente precisa estar ali. O autor deve ser capaz de mapear sua história através dos capítulos.

2. Molde de Personagem

Outra função recorrente do capítulo é reiterar o caráter do personagem. Por exemplo, o autor elege uma característica que seja predominante no personagem e faz essa retomada sutilmente em cada capítulo através das ações e pensamentos dessa personagem.

3. Revelação

Como dito antes, os capítulos também funcionam como "movimento" do enredo, revelando algo do passado da personagem ou dando indicações do futuro da história.

3. APROPRIAR-SE DA LÍNGUA

Essa é uma regra unânime entre todos os autores: ler. Pode parecer batido tocar nessa mesma tecla, mas não tem como escapar, para escrever precisa de repertório e esse repertório é conquistado pela leitura, quanto mais lê, mais tem. Simples assim.

Ler é um processo criativo, enquanto lê é preciso questionar-se como se chegou àquele resultado, que recursos foram usados, como foi feito?

Traduza a leitura em repertório de escrita. Cada livro é uma verdadeira aula de técnica, boa ou ruim, mais que ler, comece a ler como um autor.

Dentro dessa ideia de ler, Tiago abordou um decálogo com os direitos do leitor criados por um escritor que eu esqueci o nome agora, mas é um decálogo muito interessante que eu printei e quero mostrar para vocês:

clique nas imagens pra ampliar.

Só explicando a parte do bovarismo, esse termo vem da obra Madame Bovary do Flaubert (um livro muito bom, por sinal), ela é a versão feminina de Don Quixote (outro livro muito bom), é o fato de você se entregar de tal modo a uma obra e imergir ao ponto de não conseguir discernir a realidade ou apropriar-se das personagens como si mesmo, entrar numa espécie de realidade paralela. Mais ou menos isso.
Em termos psicológicos, o bovarismo consiste em uma alteração do sentido da realidade, na qual uma pessoa possui uma deturpada autoimagem, na qual se considera outra (de características grandiosas e admiráveis), que não é. (Via Wikipédia)

4. COMPREENDA O PROCESSO

Mantenha uma espécie de "diário do romance", como um tipo de "bastidores da história", quando estiver desanimado e sem querer escrever, abra e leia esse diário, revisite os locais e as personagens, converse com eles, fale sobre as coisas que acham que estão faltando no livro, descreva a angústia e dificuldades de abordar certos assuntos.

5. ACHE TEMPO

A primeira desculpa da maioria das pessoas é não ter tempo, mas avalie-se com sinceridade: quantas horas você passa por dia na Netflix? Ou ainda, no Whatsapp?

Um romance leva tempo. É uma atividade de longa duração, uma "maratona" e é preciso estar disponível para percorrê-la.

O tempo da escrita é como o tempo do amor: é um tempo roubado.
— Tiago Novaes


No começo é preciso estabelecer uma rotina e criar condições para que isso aconteça, se há dificuldade de concentração o uso de aplicativos de tempo como o "Pomodoro timer" e seus derivados é muito recomendado. A escrita precisa ser prazerosa, sim, mas deve também ser levada a sério. Problemas para acordar cedo e se concentrar? Veja essas dicas do Tiago:

6. REALIZE INTERLOCUÇÃO ESPECIALIZADA

Escrever é um processo intimista, mas não precisa ser individualista e ao dizer isso não estou sugerindo que você escreva à quatro mãos, mas que estabeleça contato com outros autores, trocar experiências e angústias do processo, até mesmo leitores teste são muito bons para o amadurecimento do romance.
  • Busque ajuda - se você pode procurar um leitor beta ou um leitor teste converse sobre suas dificuldades e troque ideias.
  • Procure companhia - trocar figurinhas com outros autores é mais que válido.
  • Leitores teste - Se há alguém em que você confia plenamente e é uma pessoa que gosta de ler faça essa experiência de entregar sua obra como leitura teste para essa pessoa. O feedback dos leitores é muito bom. As plataformas online como Nyah, Sweek e Wattpad também são muito válidas.
  • Aceite críticas - desde que seja algo que contribua para o crescimento do seu romance e seu com escritor elas são muito bem vindas!
  • Troque análises com outros autores - troquem textos e façam uma análise do trabalho um do outro vendo em que a narrativa ou o enredo podem melhorar.
  • Olhar especializado - se você puder pagar, críticos e revisores também são muito bem vindos.

7. APRENDA A REVISAR

Dedique tempo a lapidar sua obra e aprenda a gostar disso! Esse é, provavelmente, o passo mais importante e mais ignorado. O autor precisa aprender a observar o seu trabalho com olhos de leitor, cortar cenas, mudar coisas, observar estrutura, cadência, ritmo da prosa, etc. Muito mais que a correção gramatical é preciso desenvolver a prática de observar o seu trabalho com o crivo e a exigência do público ao qual se dirige. O Tiago deu 4 ficas bem bacanas para começar os trabalhos de revisão:
[Clique nas imagens pra ampliar!]




Entenda que escrever não é fácil, é um processo que mobiliza sentimentos e, muitas vezes, nos traz sensações angustiantes e desafiadoras. Mas, sobretudo, escrita é trabalho e como tal exige do artífice método, aplicação e prática. Certamente há quem escreva muito bem sem fazer qualquer projeto de texto, mas são casos raros. Se você não se enquadra nessa minoria, planejar bem como vai ser o texto ainda é a melhor alternativa.

Em outro momento, se eu achar ou participar de algum minicurso legal, trago para vocês algumas ideias de planejamento de texto! Por hora é isso, gente! Espero que tenham gostado, até o próximo post!

^-^'

quinta-feira, 12 de abril de 2018

[Livro] Quando a Bela domou a Fera - Eloisa James

Título original: When Beauty Tamed The Beast
Tradução: Thalita Uba
páginas: 320 (físico) 476 (ebook)
Série: Contos de Fadas #2

Sinopse: Piers Yelverton, o conde de Marchant, vive em um castelo no País de Gales, onde seu temperamento irascível acaba ferindo todos os que cruzam seu caminho. Além disso, segundo as más línguas, o defeito que ele tem na perna o deixou imune aos encantos de qualquer mulher.

Mas Linnet não é qualquer mulher. É uma das moças mais adoráveis que já circularam pelos salões de Londres. Seu charme e sua inteligência já fizeram com que até mesmo um príncipe caísse a seus pés. Após ver seu nome envolvido em um escândalo da realeza, ela definitivamente precisa de um marido e, ao conhecer Piers, prevê que ele se apaixonará perdidamente em apenas duas semanas.

No entanto, Linnet não faz ideia do perigo que seu coração corre. Afinal, o homem a quem ela o está entregando talvez nunca seja capaz de corresponder a seus sentimentos. Que preço ela estará disposta a pagar para domar o coração frio e selvagem do conde? E Piers, por sua vez, será capaz de abrir mão de suas convicções mais profundas pela mulher mais maravilhosa que já conheceu?

Quando a Bela domou a Fera é um romance histórico escrito por Eloisa James nos dando uma vaga ilusão de que se trata de uma releitura do conto de Madame de Villeneuve, mas essa ilusão se dissipa assim que a leitura começa.

Logo no início do livro conhecemos Linnet, a "Bella" é uma moçoila do século XIX que acaba se envolvendo em um escândalo por causa do inconsequente e casanova príncipe Augustus. Por causa disso, sua condição de boa moça disponível para casar desaparece num piscar de olhos. Pensando que estava arruinada assim como, um dia, sua mãe também levara a ruína para dentro de casa, o pai de Linnet, um homem fraco de espírito e totalmente influenciável, se confia na tia da menina, sua cunhada, para resolver o problema.

A solução é casar Linnet com Piers, o filho único e herdeiro de um conde que vive no em Gales. Porém, a reputação do homem não é de modo algum um ponto ao seu favor. Conhecido como um monstro, ele é um médico que vive recluso e tem uma péssima relação com o pai, fora criado na França pela mãe e tem um gênio horrível. O duque também confidenciou a Linnet que o filho tem um sério problema na perna e, por isso, mancha e só consegue andar com o auxílio de uma bengala. Isso, aliado ao seu gênio pavoroso, impede que qualquer mulher se aproxime dele deixando assim a família sem um herdeiro para o título.

Assim, Linnete viaja para Gales junto com o futuro sogro para conhecer o seu noivo. Piers é uma figura imponente e extremamente rude e mordaz, ainda assim há um fascínio que sobressai-se nele e conforme os dois convivem e ela conhece mais não apenas do noivo, mas do trabalho dele como médico especializado em diagnósticos precisos, mais ela se vê apaixonada e querendo saber mais dele, contudo, vencer o gênio difícil e a parede de gelo que Piers ergueu em volta de si não será nada fácil.

O livro logo de cara não foi nada do que eu pensava que seria, grande parte da leitura pensei que estava lendo uma versão mais "enxuta" dos livros da Julia Quinn (que por sinal é outra que eu gosto bem pouco), a história segue um ritmo bom, contudo mesmo apesar do enredo claramente bem construído com um clímax um pouco previsível, mas ainda assim muito bem criado, não consegui aquela conexão que temos com a história quando ela super funciona com a gente. Mas vale lembrar que essa é uma opinião minha.

Outra coisa que atrapalhou enormemente minha leitura foi o uso muito errôneo do pronome "você" nas frases, não sei se isso foi um problema da tradução ou se o original é igual, mas notou-se que a autora tentou adequar a linguagem para a época em que o livro se passa e, abrindo um parêntese para isso, gostaria de dizer que é muito bem retratada a época, os problemas com doenças naquele tempo, os pequenos avanços da medicina na cura de infecções e, sobretudo, o modo como a nobreza foi retratado de maneira muito bem feita tirando aquela ilusão bonita da idade média. 

Mas voltando à linguagem da época no livro, na minha opinião é sim muito bom quando adequamos a fala das personagens ao período histórico ao qual pertencem, acho que isso torna a história mais fiel e passa mais credibilidade, contudo a tradução ou a autora foram infelizes em fazê-lo nesse livro, e ainda tendo a acreditar que tenha sido a tradução (que a revisão também fez questão de ignorar!). Dentre alguns exemplos que seguem o livro inteiro estão:

"Recordou ele a você próprio." "Mais uma vez prometeu a você própria."
Nesse caso, a intenção era dizer a si próprio, mas parece que usaram aquele recurso localizar e substituir do word e ele acabou trocando o que não devia. É muito irritante isso.

"Aqui até você casares" / "Estás você" / "Você não vais"
Aqui, o uso do pronome com o verbo, você pode ver por si só que não combina. O correto aí seria usar o tu e não o você, para ficar eufônico e contextualizado. Me incomodou muito também.

Brilhe no lugar de brilho, ocorreu mais de uma vez em várias passagens do livro. Gente, pelo amor, ninguém revisou isso não? Esse livro foi publicado pela Arqueiro!

Outra coisa que fez o livro não funcionar comigo foram as personagens. Simplesmente não consegui me conectar com elas, apesar de serem bem construídas não surtiram qualquer efeito em mim e é muito triste quando isso acontece. Ainda assim, é um bom livro, tem uma boa história principalmente para quem gosta de um bom romance histórico, contudo não funcionou comigo o que não quer dizer que a história seja ruim. Talvez eu dê outra chance à autora para ver como ela se sai comigo numa nova tentativa, por enquanto a minha opinião sobre ela é essa. 

Obrigada por ter lido essa resenha, não esqueça de se inscrever no canal do youtube e se quiser indicar sua fanfic para análise ou resenha, manda mensagem para nosso "chefinho" Hadou no facebook ou nas redes de fanfic! 

Até o próximo post!

terça-feira, 10 de abril de 2018

Manifestações e prisão do ex-presidente Lula

 Olá, rapazes e raposas, aqui quem fala é o Reiko e bem vindos a minha primeira publicação aqui no blog do Leitor Beta. Semana passada testemunhamos um momento histórico para o Brasil, pela primeira vez neste século tivemos um ex-presidente condenado e preso.
 Primeiramente, devo acrescentar o que todos já sabem: Esse não foi o ultimo passo para combater a corrupção no país, mas foi um grande passo. A Humanidade é uma espécie que é muito afetada por exemplos, e a partir do momento que o homem que já esteve no topo da mais alta esfera do poder de nosso país é preso... já passa um grande exemplo de que a impunidade está sendo abaixada (Não que já esteja bom a partir de agora, ainda se tem um longo caminho pela frente para a redução da impunidade), então que isso prossiga para a prisão de muitos outros que denegriram a confiança dos brasileiros.





 Porém, antes de continuarmos com os ocorridos, é necessário que saibamos o que motivou essa prisão, então estarei deixando o link das provas contra o ex-presidente ao final da publicação.




 Começamos com a longa jornada de 4 dias no dia 03/04/2018, quando milhões de Brasileiros de todos os estados puseram-se nas ruas clamando por um pouco de justiça no mar de enganação.

 No  dia 04/04, ocorreu o julgamento do Habeas Corpus do ex-presidente no STF. A sessão durou por aproximadamente 11 horas e após a ocorrência de um empate nos votos, ficou sobre decisão de Carmen Lucia, atual presidente do Supremo Tribunal, qual seria o destino de Lula, e para a alegria das pessoas que se manifestaram no dia 3, o HC de Lula foi negado.

 No dia 05/04, o Juiz Sergio Moro decretou que Lula deveria entregar-se a policia em até 17h do dia 06/04. Muitas pessoas questionaram a decisão de Moro, pois deu tempo e chance do ex-presidente fazer um teatro no Sindicato dos Metalúrgicos, onde passou do dia 5 até as 18:40h do dia 07/04, quando finalmente se entregou (Observe que ultrapassou mais de 24h do prazo), entretanto, tudo ocorreu bem, e na minha opinião isso meio que desarmou os fanáticos petistas com a possível imagem de uma polícia agressiva.

           (Observem a falta de bandeiras do Brasil)


  Durante as manifestações de militantes em frente ao Sindicato, que contou com a presença de Manuela d'Ávila, Guilherme Boulos... entre outros aliados de esquerda, ocorreu algo trágico. Infelizmente, essas manifestações não foram pacíficas como as do dia 3... fanáticos atacaram qualquer pessoa de oposição que aparecesse, vandalização da residencia de Carmen Lúcia, entre outros atentados violentos fizeram parte do movimento. Em frente ao Instituto Lula, o empresário Carlos Alberto Bettoni foi empurrado em direção ao para-choque de caminhão e teve um traumatismo craniano e infelizmente se encontra em estado grave no hospital...




Links complementais:
Provas contra Lula: https://youtu.be/xiVitlBgNGA
Manifestações do dia 03/04: https://youtu.be/DbUZT0dXKKc
Ataque a Carlos Bettoni: https://youtu.be/hvNcTimaaeE

terça-feira, 3 de abril de 2018

[Livro] O Diário de Anne Frank

Título Original: The Diary of Anne Frank
Publicação original: 1947
Publicação em Inglês: 1952
Gênero: Autobiografia
Páginas: 373 (bestbolso)

Sinopse: Em 9 de julho de 1942, Anne, seus pais, sua irmã e outros judeus (Albert Dussel e a família van Daan) se esconderam em um Anexo secreto junto ao escritório de Otto H. Frank (pai de Anne), em Amsterdã, durante a ocupação nazista dos Países Baixos. Inicialmente, Anne Frank usa seu diário para contar sobre sua vida antes do confinamento e depois narra momentos vivenciados pelo grupo de pessoas confinadas no Anexo. Em 4 de agosto de 1944, agentes da Gestapo detiveram todos os ocupantes que estavam escondidos em Amsterdã. Separaram Anne de seus pais e levaram-nos para os campos de concentração. O diário de Anne Frank foi entregue por Miep Gies a Otto H. Frank, seu pai, após a morte de Anne Frank ser confirmada. Anne Frank faleceu no campo de concentração Bergen-Belsen em março de 1945, quando tinha 15 anos.

"Por que se gastam milhões com a guerra a cada dia, enquanto não existe um centavo para a ciência médica, para os artistas e para os pobres? Por que milhões de pessoas têm de passar fome, quando montanhas de comida apodrecem em outras partes do mundo? Ah, por que as pessoas são tão malucas?" 


Anne Frank levava uma vida o mais comum que podia dentro das limitações dos judeus na Holanda ocupada pelos nazistas, em seus aniversário de 13 anos ela escolheu como presente um diário que se tornaria seu consolo e companhia pelos próximos e breves três anos de sua vida.

Quando sua irmã recebe uma convocação alemã, a família inteira antecipa sua fuga para um esconderijo onde poderiam sobreviver aos sombrios dias da guerra. De uma hora para outra, Anne vê sua até então vida livre e feliz transformar-se em um cubículo onde nenhum barulho era permitido e nenhum contato com o mundo exterior aconteceria até que a guerra finalmente chegasse ao fim, é nessa situação que ela começa a escrever em seu diário, a quem apelida de Kitty.

Já ouviram falar da regra "Escreva como se ninguém fosse ler"? Muitos autores de renome dão esse conselho a autores iniciantes, talvez grande parte do sucesso do diário de Anne Frank, além, obviamente, da retratação do período histórico da segunda guerra, é o modo descontraído e afiado com que ela escreve suas "cartas para Kitty", relatando o dia a dia no anexo secreto, seus moradores complicados e as relações familiares conturbadas que se desenrolam naquela convivência permeada pelo medo e a esperança.

Com uma escrita espirituosa e afiada, Anne retrata nas páginas de seu diário as dificuldades de convivência dentro do anexo secreto por causa das personalidades complicadas dos membros da família Van Daan e dos seus próprios pais, os problemas enfrentados com a comida, a situação da guerra de acordo com as notícias que ouvia clandestinamente pelo rádio do anexo e, paralelo a tudo isso, vamos acompanhando seu próprio desenvolvimento como pessoa, os sentimentos turbulentos da menina que transita para a juventude, a rebeldia das sensações à flor da pele tanto pela situação em si quanto pela adolescência e a confusão na busca das descobertas de si mesma. A difícil relação com a mãe que, mais tarde, vai estendendo-se para toda a família numa oscilação esfuziante de sensações pelas quais, muitas vezes, ela se desculpa em suas adições posteriores na edição do diário.

Anne era dona de uma mente afiada e vívida, ávida por conhecimento, a menina desejava se tornar jornalista e, posteriormente, uma famosa escritora. Começou a editar seu diário para que pudesse ser usado como um documento pós-guerra, mas morreu antes de ver seu sonho se concretizar e, através de Otto Frank, seu pai, o sonho de transformar a vida das pessoas através das palavras finalmente se concretizou com a publicação de sua experiência em 1947, dois anos após sua morte.

"Quero ser útil ou trazer alegria a todas as pessoas, mesmo àquelas que jamais conheci. Quero continuar vivendo depois da morte!"


Dentre as muitas coisas que chamam atenção na leitura do diário de Anne Frank além do seu pensamento extremamente maduro para sua idade, é o modo como ela, sensivelmente, consegue delatar a covardia e o egoísmo humano dentro do pequeno mundo do anexo, apesar de estarem todos em uma situação ruim, mesmo sendo todos judeus com a incumbência de se ajudarem mutuamente, o clima dentro da casa era de guerra, por comida, por conforto, por espaço, por atenção. O ser humano em seu desgaste máximo ainda consegue ser intransigente e egocêntrico, Petronela Van Daan e Albert Dussel são os maiores exemplos disso. Peter Van Daan representa o conformismo, ele não acredita mais em um futuro no fim da guerra para ele mesmo, tanto que diz a ela que se tornaria um bandido.

Ainda falando de Peter Van Daan, ele se torna um interesse amoroso de Anne dentro do Anexo, contudo, ao meu ver, ela apenas transferiu sentimentos de seu primeiro amor (que provavelmente morrera junto de tantos outros judeus) para ele, não somente pela pressão da situação em si, mas pela sensação que ela carregava consigo de estar sempre sozinha, como diz em uma das passagens: "A gente pode estar sozinha mesmo quando é amada por muitas pessoas, quando não é o "único amor" de ninguém." uma prova disso é que ela acaba percebendo as diferenças entre eles e assume que o interesse diminui. Ainda dentro desse ponto, a descoberta da sexualidade de Anne também é um ponto que chama muito a atenção, como seus pais não falam sobre isso com ela, é com o próprio Peter que ela tira suas dúvidas sem qualquer tipo de constrangimento.

O Diário de Anne Frank é uma leitura quase que obrigatória principalmente para os jovens. Com essa garotinha de 13 anos e seu amadurecimento, nós podemos apreender um pouco da efemeridade da vida, do poder da fé e da esperança mesmo nos momentos mais sombrios e da importância da sabedoria, do conhecimento e da autenticidade. O pequeno anexo secreto pode se tornar sim uma alusão ao mundo que vivemos, com pessoas complicadas e egoístas alimentadas pelo individualismo da sociedade, mas, com essa menina, aprendemos que fazer a diferença com a nossa própria luz é sim de grande importância. Anne Frank não viveu para ver o legado que deixou para o mundo se espalhar como era seu sonho e, se há algo que me entristece é saber que, apesar de ser um dos livros mais lidos desde sua publicação, a mensagem de Anne continua presa nas páginas uma vez que nunca se torna uma prática real nas sociedades pelo mundo consumido em guerras, sede de poder, segregações e individualismo latente.

"Não acredito que a guerra seja apenas obra política e capitalista. Ah, não, o homem comum é igualmente culpado; caso contrário, os povos e nações teriam se rebelado ha muito tempo! Há uma necessidade destrutiva nas pessoas, a necessidade de demonstrar fúria, de assassinar e matar. E até que toda a humanidade, sem exceção, passe por uma metamorfose, as guerras continuarão a ser declaradas e tudo que foi cuidadosamente construído, cultivado e criado será cortado e destruído só para começar outra vez." 

Para fechar essa resenha, deixo o excelente documentário sobre o traidor de Anne Frank, a pessoa que, supostamente entregou Anne e seus companheiros para a Guestapo.