Título Original: The Diary of Anne Frank
Publicação original: 1947
Publicação em Inglês: 1952
Gênero: Autobiografia
Páginas: 373 (bestbolso)
Sinopse: Em 9 de julho de 1942, Anne, seus pais, sua irmã e outros judeus (Albert Dussel e a família van Daan) se esconderam em um Anexo secreto junto ao escritório de Otto H. Frank (pai de Anne), em Amsterdã, durante a ocupação nazista dos Países Baixos. Inicialmente, Anne Frank usa seu diário para contar sobre sua vida antes do confinamento e depois narra momentos vivenciados pelo grupo de pessoas confinadas no Anexo. Em 4 de agosto de 1944, agentes da Gestapo detiveram todos os ocupantes que estavam escondidos em Amsterdã. Separaram Anne de seus pais e levaram-nos para os campos de concentração. O diário de Anne Frank foi entregue por Miep Gies a Otto H. Frank, seu pai, após a morte de Anne Frank ser confirmada. Anne Frank faleceu no campo de concentração Bergen-Belsen em março de 1945, quando tinha 15 anos.
"Por que se gastam milhões com a guerra a cada dia, enquanto não existe um centavo para a ciência médica, para os artistas e para os pobres? Por que milhões de pessoas têm de passar fome, quando montanhas de comida apodrecem em outras partes do mundo? Ah, por que as pessoas são tão malucas?"
Anne Frank levava uma vida o mais comum que podia dentro das limitações dos judeus na Holanda ocupada pelos nazistas, em seus aniversário de 13 anos ela escolheu como presente um diário que se tornaria seu consolo e companhia pelos próximos e breves três anos de sua vida.
Quando sua irmã recebe uma convocação alemã, a família inteira antecipa sua fuga para um esconderijo onde poderiam sobreviver aos sombrios dias da guerra. De uma hora para outra, Anne vê sua até então vida livre e feliz transformar-se em um cubículo onde nenhum barulho era permitido e nenhum contato com o mundo exterior aconteceria até que a guerra finalmente chegasse ao fim, é nessa situação que ela começa a escrever em seu diário, a quem apelida de Kitty.
Já ouviram falar da regra "Escreva como se ninguém fosse ler"? Muitos autores de renome dão esse conselho a autores iniciantes, talvez grande parte do sucesso do diário de Anne Frank, além, obviamente, da retratação do período histórico da segunda guerra, é o modo descontraído e afiado com que ela escreve suas "cartas para Kitty", relatando o dia a dia no anexo secreto, seus moradores complicados e as relações familiares conturbadas que se desenrolam naquela convivência permeada pelo medo e a esperança.
Com uma escrita espirituosa e afiada, Anne retrata nas páginas de seu diário as dificuldades de convivência dentro do anexo secreto por causa das personalidades complicadas dos membros da família Van Daan e dos seus próprios pais, os problemas enfrentados com a comida, a situação da guerra de acordo com as notícias que ouvia clandestinamente pelo rádio do anexo e, paralelo a tudo isso, vamos acompanhando seu próprio desenvolvimento como pessoa, os sentimentos turbulentos da menina que transita para a juventude, a rebeldia das sensações à flor da pele tanto pela situação em si quanto pela adolescência e a confusão na busca das descobertas de si mesma. A difícil relação com a mãe que, mais tarde, vai estendendo-se para toda a família numa oscilação esfuziante de sensações pelas quais, muitas vezes, ela se desculpa em suas adições posteriores na edição do diário.
Anne era dona de uma mente afiada e vívida, ávida por conhecimento, a menina desejava se tornar jornalista e, posteriormente, uma famosa escritora. Começou a editar seu diário para que pudesse ser usado como um documento pós-guerra, mas morreu antes de ver seu sonho se concretizar e, através de Otto Frank, seu pai, o sonho de transformar a vida das pessoas através das palavras finalmente se concretizou com a publicação de sua experiência em 1947, dois anos após sua morte.
"Quero ser útil ou trazer alegria a todas as pessoas, mesmo àquelas que jamais conheci. Quero continuar vivendo depois da morte!"
Dentre as muitas coisas que chamam atenção na leitura do diário de Anne Frank além do seu pensamento extremamente maduro para sua idade, é o modo como ela, sensivelmente, consegue delatar a covardia e o egoísmo humano dentro do pequeno mundo do anexo, apesar de estarem todos em uma situação ruim, mesmo sendo todos judeus com a incumbência de se ajudarem mutuamente, o clima dentro da casa era de guerra, por comida, por conforto, por espaço, por atenção. O ser humano em seu desgaste máximo ainda consegue ser intransigente e egocêntrico, Petronela Van Daan e Albert Dussel são os maiores exemplos disso. Peter Van Daan representa o conformismo, ele não acredita mais em um futuro no fim da guerra para ele mesmo, tanto que diz a ela que se tornaria um bandido.
Ainda falando de Peter Van Daan, ele se torna um interesse amoroso de Anne dentro do Anexo, contudo, ao meu ver, ela apenas transferiu sentimentos de seu primeiro amor (que provavelmente morrera junto de tantos outros judeus) para ele, não somente pela pressão da situação em si, mas pela sensação que ela carregava consigo de estar sempre sozinha, como diz em uma das passagens: "A gente pode estar sozinha mesmo quando é amada por muitas pessoas, quando não é o "único amor" de ninguém." uma prova disso é que ela acaba percebendo as diferenças entre eles e assume que o interesse diminui. Ainda dentro desse ponto, a descoberta da sexualidade de Anne também é um ponto que chama muito a atenção, como seus pais não falam sobre isso com ela, é com o próprio Peter que ela tira suas dúvidas sem qualquer tipo de constrangimento.
O Diário de Anne Frank é uma leitura quase que obrigatória principalmente para os jovens. Com essa garotinha de 13 anos e seu amadurecimento, nós podemos apreender um pouco da efemeridade da vida, do poder da fé e da esperança mesmo nos momentos mais sombrios e da importância da sabedoria, do conhecimento e da autenticidade. O pequeno anexo secreto pode se tornar sim uma alusão ao mundo que vivemos, com pessoas complicadas e egoístas alimentadas pelo individualismo da sociedade, mas, com essa menina, aprendemos que fazer a diferença com a nossa própria luz é sim de grande importância. Anne Frank não viveu para ver o legado que deixou para o mundo se espalhar como era seu sonho e, se há algo que me entristece é saber que, apesar de ser um dos livros mais lidos desde sua publicação, a mensagem de Anne continua presa nas páginas uma vez que nunca se torna uma prática real nas sociedades pelo mundo consumido em guerras, sede de poder, segregações e individualismo latente.
"Não acredito que a guerra seja apenas obra política e capitalista. Ah, não, o homem comum é igualmente culpado; caso contrário, os povos e nações teriam se rebelado ha muito tempo! Há uma necessidade destrutiva nas pessoas, a necessidade de demonstrar fúria, de assassinar e matar. E até que toda a humanidade, sem exceção, passe por uma metamorfose, as guerras continuarão a ser declaradas e tudo que foi cuidadosamente construído, cultivado e criado será cortado e destruído só para começar outra vez."
Para fechar essa resenha, deixo o excelente documentário sobre o traidor de Anne Frank, a pessoa que, supostamente entregou Anne e seus companheiros para a Guestapo.
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ResponderExcluirOlá, Luciana! Muito feliz que curtiu! Continue acompanhando o blog e o canal, é muito bom ter sua presença por aqui! Grande abraço!
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