Saudações!
Recentemente comecei a fazer um minicurso de escrita criativa, quem disser a vocês que escritores não precisam estudar está mentindo, escutem o que eu digo! Nós que queremos viver de palavras estudamos como médicos e professores, sempre e para sempre.
Hoje a gente vai começar a ver uma ferramenta de representação para o enredo do livro. Quem ministrou esse curso foi o professor Gilberto Sendtko, o curso de criação literária deste senhor custa nada menos que R$ 3.270,12 dinheiros! Então, obviamente, eu não perderia a chance de ouvir as dicas dele nesse minicurso ainda que não tenha todas as ferramentas que o curso completo oferece, ele é bem dinâmico no que diz respeito a ensinar alguns passos que orientam os autores iniciantes a organizar suas obras e eu vou passar para você tudo que aprender nessas aulinhas.
Bom, iniciando, esse ferramental simbólico serve para que a gente represente todo o planejamento que nós estamos desenvolvendo para a obra que vamos escrever. Serve para que represente-se simbolicamente a história que queremos produzir, os movimentos existentes, encontros, desencontros, etc. Em outras palavras, é a representação simbólica do enredo. Uma das maiores dificuldades para autores inciantes (e aqui eu me coloco entre eles) normalmente é o planejamento de enredo, gente, esse negócio não é de Deus não! E ainda tem gente que tem a audácia de dizer que escrever um livro é fácil!
Eu já falei sobre isso antes, o planejamento de enredo serve para que você tenha um norte da obra que vai criar, permite que ela seja homogênea e linear, o maior problema em se escrever ao bel prazer da imaginação - e o professor deixa isso bem claro - é que os personagens e o próprio enredo em si acabam se tornando reféns do humor e da inspiração do escritor coisa que fica visível durante a leitura e acaba tendo-se um resultado cheio de inconsistências. E muitos autores desistem da obra no meio do caminho por simplesmente não saberem para onde ir com aquela história, grande parte dessa dificuldade de planejamento dá-se pela falta de uma ferramenta que proporcione uma visão completa, de totalidade da história que permita que o autor visualize os acontecimentos que serão narrados em uma ordem temporal e em movimento.
Então, nessa aula vamos ver como representar simbolicamente esse enredo e dar início ao planejamento do nosso projeto literário. Para exemplificar isso vou usar o mesmo exemplo do professor Gilberto, suponha que você quer contar a história de um personagem X, ou seja, escrever um livro que vá abarcar parte do percurso histórico desse personagem e aí vem a questão: Como vou representar simbolicamente essa parte da história desse personagem? Esse enredo que é praticamente o movimento desse personagem do ponto A ao ponto B do meu livro? E mais: como fazer isso de uma forma simples que me permita ter uma visão completa da minha obra e fazer consultas sempre que eu precisar fazer consultas para me encontrar.
Difícil pensar nisso, não é? A prática da ferramenta que vamos utilizar é teoricamente bem simples, mas vai te custar um pouco de tempo então, preste atenção em cada passo.
Essa é a linha do tempo do nosso personagem X! Vejam que ela é como uma linha do tempo daquelas que a gente aprende nas aulas de história, ela inicia no ponto 0 que é onde nosso personagem nasce e termina aos 81 anos que, à escolha de exemplo do professor, ele decidiu pelo fim do livro e da vida da personagem, mas você pode simplesmente deixar em aberto e colocar apenas até onde conta a sua historia. Notem também que ela se divide em duas partes, até os 36 anos que é onde o livro começa, e a partir dos 36 aos 81 que é o que se contará na história.
É então que nós entramos no cerne da nossa aula de hoje que focará nessa primeira parte que é chamada Trajetória Histórica de Base, ela serve para nortear toda a construção do enredo, esse é o percurso histórico desse personagem do momento que ele nasce até o início da história. E sim, é preciso planejar esse percurso antecedente ao início da obra e a gente vai ver logo porque é tão importante. Isso faz uma diferença sem precedentes na hora da escrita do livro, da construção da personagem, dos contextos e da relação dos personagens e esses contextos. É preciso entender que a história dos nossos personagens começa muito antes do início do livro, se você, por exemplo, escreve sobre um personagem de 16 anos descobrindo poderes, precisa ter em mente que ele teve uma vida inteira até os 16 anos, uma trajetória histórica que o moldou até chegar no ponto que a sua história se inicia. Então, por mais difícil e não habitual que pareça, não desmereçam a história de base, ela é uma das etapas mais importantes dentro da produção literária.
Então, antes de partir para o enredo em si, notem essas siglas que há na linha do tempo: D.D., essa é a sigla para Dado Divisório, são marcações que definem o fim de uma fase, uma etapa, um período da vida do personagem ou do enredo e o início de outra, o que muda dentro de cada período e como o personagem evolui ou regride dentro de cada uma dessas fases e contextos que envolvem esses dados divisórios. A gente vai ver esses D.D. em detalhes posteriormente, voltando para a história de base, o grande problema dos escritores iniciantes quando produzem (e volto a me incluir nisso) começam a escrever uma história com um personagem em idade X e ignoram completamente o percurso histórico daquele personagem, como se ele surgisse do nada naquela idade e literalmente caísse de paraquedas naquele contexto.
Isso acaba gerando uma história sem profundidade, sem densidade, onde eu não compreendo a dinâmica que envolve as escolhas e o pensamento daquele personagem. E esse problema acaba causando uma impressão, em determinado ponto da história, que não estamos mais no mesmo livro lidando com o mesmo personagem. Entendam que não é que seu personagem não evolua, a questão aqui é que o seu personagem evolua sendo ele mesmo e não virando outra pessoa, o leitor precisa da sensação de linearidade, de consistência de verossimilhança. Essa base vai alicerçar a construção do nosso personagem, como ele pensa, como ele age, como ele vê o mundo e como interage com ele. Mas sobretudo: Por que? Essa situação de causalidade só pode ser compreendida quando conhecemos quem é nosso personagem, de onde ele veio e o que fez ele ser como é, assim evita-se um problema muito comum de multiplas personalidades quando muitas vezes no segundo capítulo o personagem já não é mais o mesmo ou todos os personagens parecem iguais.
Outra coisa que o professor recomenda além de sempre, antes de escrever, construir uma história de base, é começar escrevendo contos. Segundo ele "É muito mais fácil começar tentando construir algo digno em 5, 10, 15, 20 páginas e fazer um livro de contos do que iniciar uma obra com as suas 120, 200, 400 páginas. 99% dos escritores que iniciam produzindo suas obras com mais de 50 páginas simplesmente desistem no meio do caminho ou muito antes da metade do caminho."
Do mesmo modo se aplica ao que eu chamo de "maldição da trilogia", conheço escritores iniciantes que mal conseguem trabalhar em um livro só e já planejam começar escrevendo uma saga de 3 livros! Vocês estão vendo aqui como dá trabalho fazer um só livro, e a gente não tá nem no meio do processo, viu? Esse é o começo do planejamento, gente. O começo! Então comecem pequeno, comecem prezando a qualidade, comecem focando em algo bem feito e não se preocupem com o tamanho disso. Não queiram imitar escritores famosos, sejam vocês mesmos!
Então a primeira etapa é criar um Contexto de Base, lá no marco 0, onde o personagem nasceu, a gente vai escrever o contexto em que esse personagem existe. Em que mundo esse personagem nasceu? Como era essa família? Como era a condição sócio-econômica? Como era a relação dessa família com o mundo? É a relação do personagem com esse contexto que vai moldar a caracterização dele. Depois defina cada um dos Dados Divisórios da vida desse personagem, cada DD desse representa uma mudança na vida desse personagem, uma marca nele, o fim de uma fase e o início de novas coisas. Para exemplificar isso, vamos continuar com a ideia daquele personagem X lá de cima.
Então a gente tem aí o contexto base desse personagem, nós definimos um momento histórico, um local, uma situação familiar que vai embasar a vida dele até o início do livro.
E então, a gente tem aqui as pontuações dos D.D. cada acontecimento primordial que marcou a vida desse personagem até o início do livro. Quando concluímos isso, nós já temos uma pequena base de dados sobre nosso personagem, eu já sei por onde esse personagem passou, pelo que ele passou, o modo de ele ser no mundo eu já sei como lidar com isso, esse personagem já não nasceu do nada, ele já tem uma identidade própria.
Essa é só uma representação básica. Eu vou continuar o curso e, conforme for avançando, vou dividindo com vocês o que vou aprendendo! Então vejo vocês na próxima aula!
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